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domingo, 22 de junho de 2008

em Itacaré (BA), na Casa do Boneco (março, 2005)

Queridos amigos e amigas,

Alguns de vocês sabem que eu adoro viajar. Passei uns 10 dias de minhas férias (que estão terminando...) na Bahia. Além da aula de história do Brasil, que viajando por esse Brasilzão a gente sempre rememora, aqui e acolá, aprende-se muito mais a respeito de um outro Brasil, aquele que nós, moradores dos grandes centros urbanos ouvimos falar, até vemos nos telejornais, revistas e jornais, mas pouco conhecemos. Um Brasil desprovido dos recursos que a ciranda dos mercados financeiros gera e alimenta, mas que se reinventa, se sustenta e se mantém de pé com dignidade, trabalho, alegria, como é característico no povo brasileiro.

Pois bem, com a suspeita de que iria participar de um típico programa PT (=pega-turista), no último dia 16 de março, estava em Itacaré, sul da Bahia, quando fui “convidada” a assistir a uma apresentação de uma organização da comunidade local – a Casa do Boneco de Itacaré. Embora meio descrente de que poderia ser um evento interessante, conforme descrito pelo agência receptiva local, lá fui eu.

O local é de instalações precárias, simples e rústicas, mas onde tudo funciona a contento do espetáculo. O idealizador e coordenador da casa, conhecido como Jorge Rasta (uma figura à parte !), é o apresentador de um show que dura cerca de 1h40. Ele é o líder do projeto junto às crianças da comunidade local, que ele se recusa a chamar de “carentes” e explica o porquê na abertura do show. Não conta com qualquer apoio financeiro externo, nem mesmo dos governos (município, estado ou governo federal); sequer possui o status de uma ONG. Pelo contrário : as atividade sócio-culturais por ele empreendidas ali visam apenas a auto-subsistência do projeto, com recursos arrecadados única e exclusivamente dos ingressos cobrados pelo show (2 vezes por semana – quartas e sábados), venda de bebidas no barzinho interno e artesanato típico na lojinha do local. Tudo muito rústico, simples e primitivo. E, repito, funciona !

Participam do espetáculo crianças de todas as idades (de 2 a 18 anos), de ambos os sexos. Destacaram-se, neste dia, na minha opinião, o “Curtinho”, o “pescador-bêbado” e a “Iansã”. Mas são todos crianças talentosas que certamente fariam sucesso, se estivessem num outro “contexto”. Na verdade, o projeto tem 18 anos (1987) e já trabalha ali a 2ª. geração de jovens, os mais velhos atuando como monitores e alguns já tendo partido para a capital e até mesmo para o exterior. O show é composto de apresentações de danças indígenas e africanas, primitivas e contemporâneas, candomblé e a dança dos orixás, maculelê, puxada-de-rede, todas entremeadas com as explicações culturais pertinentes, sempre narradas e apresentadas pelo Jorge Rasta. Ele discursa ampla e abertamente, de forma simples e clara, sobre a miscigenação dos povos que formaram o povo brasileiro (europeu, indígena e africano), sobre o forte sincretismo religioso vivido na Bahia até os dias de hoje, sobre o respeito à diversidade de culturas que deu origem à cultura brasileira. Uma despretensiosa aula de cultura brasileira.

A missão é manter elevada a auto-estima destas crianças, mostrando-lhes seu verdadeiro valor e sua importância no cenário de um Brasil e de um mundo que eles, até ali, não conhecem, mas que chega até eles pela mão do turismo crescente na região.

A grande lição que trouxe dali : nossos valores (modernos e urbanos) estão (dis-)torcidos, pois não precisamos de muito (dinheiro, status, posição social, etc), mas apenas elevar nossa auto-estima e trabalhar com respeito e dignidade. A CASA DO BONECO DE ITACARÉ vale a visita e o apoio. Doações são benvindas. Eu gostei e recomendo.

Seguem outras informações obtidas no site www.itacare.com.br.

Um abraço,
Dayse
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Casa do Boneco
A CASA DO BONECO DE ITACARÉ surgiu a partir do trabalho voluntário de Antônio Jorge de Jesus, conhecido como Jorge Rasta. Jorge nasceu no bairro de Alagados - Salvador e profissionalizou-se graças à Associação Livre de Moradores da Mangueira de Massaranduba que o inseriu no mundo da arte e da cultura.Com o desejo de multiplicar aquilo que havia aprendido, Jorge Rasta mudou-se para Itacaré em 1987. Em 1988 montou o primeiro grupo de capoeira e danças folclóricas do município. Desde então, vem realizando diversas atividades artísticas e culturais com crianças e adolescentes da comunidade. De lá para cá, o número de jovens que participam do projeto aumentou consideravelmente: em 2001, havia por volta de 70 crianças - atualmente são cerca de 100.A proposta da CASA DO BONECO é capacitar crianças e adolescentes para inseri-los no mercado turístico-cultural. Através da dança e da música, o projeto pretende melhorar a vida dessas crianças, aumentando sua auto-estima e dando a elas uma oportunidade para que possam garantir o seu futuro.
Principais atividades : . Teatro de bonecos. Danças Folclóricas. Danças Afro. Capoeira Angola. Origami arquitetônico. Educação ambiental. Reforço alimentar. Artesanato. Reciclagem
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Um pouco da História...
O município de Itacaré está localizado no sudeste da Bahia, a 520 km da capital do estado. A comunidade nativa é remanescente de quilombo. Sua origem remonta ao tempo dos jesuítas. Anteriormente chamada de São Miguel da Barra do Rio de Contas, recebeu o nome de Itacaré em 1931, tornando-se cidade em 1938.A base da economia do município era a produção de cacau, pois aqui se situava o principal porto de escoamento do sul da Bahia. Com a mudança do porto para Ilhéus e as pragas que afetaram a lavoura cacaueira na década de 70, iniciou-se o empobrecimento do município, tendo como conseqüência a migração da população rural para o centro urbano - fator responsável pela crescente degradação do meio ambiente e pelo aumento da pobreza.No início da década de 80, o turismo começou a surgir, dando novo impulso à economia local. Depois da construção da rodovia BA-001, trecho Ilhéus - Itacaré, o interesse turístico pela cidade aumentou de forma explosiva e a cidade foi descoberta pela mídia.Situada numa APA - Área de Proteção Ambiental, a cidade destaca-se pela beleza natural: praias virgens, falésias rochosas, restingas e mata atlântica original, onde a fauna apresenta grande diversidade de espécimes, estimulando o potencial eco-turístico da região.No entanto, a indústria do turismo vem aumentando também as desigualdades sócio-econômicas, trazendo problemas cujas principais vítimas são as crianças e os adolescentes.A CASA DO BONECO busca solucionar alguns dos problemas sócio-culturais gerados pelo impacto do turismo sobre a comunidade tradicional de Itacaré.

Objetivos. Resgate da cultura popular regional e da história local. Resgate da cidadania. Capacitação de crianças e adolescentes em atividades artísticas visando o turismo local. Formação de multiplicadores para a continuidade do processo educativo. Elevar a auto-estima das crianças e jovens envolvidos no projeto. Ensinar aos jovens a preservação do meio ambiente, transformando-os em monitores ambientais e fiscais da natureza. Proporcionar aos jovens da região atividades lúdicas e recreativasComo participarTodos os que desejarem assistir a um espetáculo único, que mantém a tradição quase extinta das danças folclóricas de origem africana (como a Puxada de Rede, o Maculelê, a Dança do Paturi e Danças indígenas), podem adquirir seu ingresso no local ou na recepção da rede hoteleira.
Horários: quartas e sábados às 20 hLocal: Subida para a Praia da ConchaConcha - Itacaré - BahiaCEP: 45.530-000Telefone: 73-251.3417casadoboneco@yahoo.com.br
Não deixe de assistir - é uma oportunidade de compartilhar de um emocionante resgate da nossa cultura.

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