ATALHOS
Martha Medeiros
Quanto tempo a gente perde na vida?
Se somarmos todos os minutos jogados fora,
Perdemos anos inteiros.
Depois de nascer,
a gente demora pra falar,
Demora pra caminhar,
Aí mais tarde demora pra entender certas coisas,
Demora pra dar o braço a torcer.
Viramos adolescentes
Teimosos e dramáticos.
Levamos um século
Para aceitar o fim de uma relação,
E outro século
Para abrir a guarda para um novo amor...
E já adultos
Demoramos a dizer a alguém o que sentimos,
Demoramos a perdoar um amigo,
Demoramos a tomar uma decisão.
Até que um dia a gente faz aniversário.
37 anos. Ou 41. Talvez 48.
Uma idade qualquer que esteja no meio do trajeto.
E a gente descobre que o tempo
Não pode continuar sendo desperdiçado.
Fazendo uma analogia com o futebol,
É como se a gente estivesse
Com o jogo empatado no segundo tempo
E ainda se desse ao luxo
De atrasar a bola pro goleiro
Ou fazer tabelas desnecessárias.
Que esbanjamento.
Não falta muito pro jogo acabar.
É preciso encontrar logo o caminho do gol.
Sem muita frescura,
Sem muito desgaste,
Sem muito discurso.
Tudo o que a gente quer, depois de uma certa idade,
É ir direto ao assunto.
Excetuando-se no sexo, onde a rapidez não é louvada,
Pra todo o resto é melhor atalhar.
E isso a gente só alcança
Com alguma vivência e maturidade.
Pessoas experientes já não cozinham em fogo brando,
Não esperam sentadas,
Não ficam dando voltas e voltas,
Não necessitam percorrer todos os estágios.
Queimam etapas.
Não desperdiçam mais nada.
Uma pessoa é sempre bruta com você?
Não é obrigatório conviver com ela.
O seu amor está enrolando muito?
Beije-o primeiro.
A resposta do emprego ainda não veio?
Procure outro enquanto espera.
Paciência só para o que importa de verdade.
Paciência para ver a tarde cair.
Paciência para sorver um cálice de vinho.
Paciência para a música e para os livros.
Paciência para escutar um amigo.
Paciência para aquilo que vale nossa dedicação
Pra enrolação...
ATALHO!
quarta-feira, 25 de junho de 2008
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Um comentário:
Adorei o texto. Grande verdade e ando sentindo isso na pele...
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